Aplicação de fungicidas contra mancha amarela em trigo

Aplicação foliar de fungicidas com outras estratégias de manejo tem se tornado essencial contra aumento da intensidade da doença e das dificuldades de controle

13.04.2020 | 20:59 (UTC -3)

A mancha amarela é limitante da cultura do trigo, principalmente em sistema de plantio direto e monocultura, em regiões mais frias, com chuvas frequentes, dias encobertos e alta umidade do ar, como ocorre no Sul do Brasil. A aplicação foliar de fungicidas, em especial trizóis e estrobilurinas, associada a outras estratégias de manejo, tem se tornado essencial nos últimos anos ante ao aumento da intensidade da doença e das dificuldades de controle.

No Sul do Brasil, o clima contribui para ocorrência e aumento da intensidade de doenças, pois durante o desenvolvimento da cultura observa-se de forma frequente excesso de chuva, acúmulo de dias encobertos e alta umidade do ar. Nesse cenário, a mancha amarela da folha do trigo ganha importância, principalmente nas regiões mais frias em que o trigo é cultivado em monocultura e sistema de plantio direto, alcançando um potencial de danos de até 48%.

A doença é causada pelos fungos Drechslera tritici-repentis (Died.) Shoemaker e Drechslera siccans (Drechsler) Shoemaker. Os primeiros sintomas aparecem nos estádios iniciais da planta, geralmente nas folhas próximas ao solo. Uma vez no interior da planta, o fungo secreta toxinas que podem causar amarelecimento e necrose dos tecidos, originando pequenas lesões ovaladas com halo amarelado e centro necrótico. Essas lesões evoluem, através de um processo chamado expansão de lesão, podendo coalescer e tomar grande proporção do tecido foliar. Esse processo é menos dependente do ambiente, por isso as manchas foliares tendem a evoluir sob condições adversas à esporulação, dispersão do inóculo e indução de novas infecções.

Figura 1: Sintomas da mancha amarela do trigo com expansão de lesão a partir do ponto de infecção. UPF, o Fundo/RS. 2013. Fonte: Ranzi, C.
Figura 1: Sintomas da mancha amarela do trigo com expansão de lesão a partir do ponto de infecção. UPF, o Fundo/RS. 2013. Fonte: Ranzi, C.

As principais formas de sobrevivência do patógeno de uma safra para outra se dão através de sementes infectadas e restos culturais. Nos restos culturais, o patógeno forma estrutura de sobrevivência, que libera esporos sexuais no início da safra sob condições favoráveis, començando o ciclo da doença em sistema de plantio direto com monocultura. Durante o desenvolvimento da cultura, sob condições favoráveis e sem adoção do controle químico, esporos assexuais são formados sobre as lesões e permitem que a doença se expanda e se torne mais agressiva. Dentro desse contexto, medidas integradas para diminuir a quantidade de inóculo em sementes e restos culturais são importantes. A intenção é atrasar o início da doença no campo, e assim diminuir os danos sobre a cultura e perdas para o agricultor.

Em áreas com problemas de mancha amarela, a rotação de cultura com espécies não hospedeiras por pelo menos um ano, como aveia, nabo forrageiro e canola pode ser eficiente para reduzir a quantidade de inóculo no campo, assim como a utilização de sementes com boa qualidade sanitária. Deve-se optar sempre que possível por cultivares menos suscetíveis à doença, sendo esta informação oferecida em dias de campo, instituições de pesquisa e informativo técnico da cultivar desejada. O tratamento de sementes com fungicidas é outra ferramenta importante, e deve ser realizado sempre que houver presença do patógeno na área ou na semente. Por fim, a aplicação foliar de fungicidas junto às outras medidas de manejo da doença é essencial, devido ao aumento da intensidade da doença e dificuldade de controle nos últimos anos no Sul do Brasil.  

Tendo em vista que a mancha amarela é de difícil controle, a Universidade de o Fundo (UPF), através dos professores, Carlos Forcelini, Carolina Deuner e orientados, desenvolvem trabalhos nesse sentido. As respostas de rendimento de trigo à aplicação foliar de fungicida é altamente variável, sendo influenciada pela resistência genética da cultivar à doença, quantidade de doença presente no campo, época, dose e número de aplicações, tecnologia de aplicação, rendimento potencial da cultura, condições climáticas durante o ciclo da cultura e virulência do patógeno.

A maioria dos fungicidas foliares utilizados para o controle de mancha amarela possuem os grupos químicos triazol ou estrobilurina, ou a mistura de ambos. Em trabalho realizado na área experimental da UPF, safra 2013, foi avaliado o desempenho de fungicidas sobre o controle de mancha amarela. O cultivar utilizado foi TBio Pioneiro, suscetível a mancha amarela. Os fungicidas empregados foram piraclostrobina + epoxiconazol (66,5+25 g i.a./ha), azoxistrobina + ciproconazol (60+24), trifloxistrobina + protioconazol (60+70), propiconazol (100) e epoxiconazol (62,5) nos estádios de perfilhamento, elongamento e florescimento. 

A porcentagem de controle da mancha amarela variou entre os tratamentos (Tabela 1). A melhor eficiência de controle foi constatada para o tratamento 9, primeira aplicação de trifloxistrobina + protioconazol com adição do propiconazol e as duas subsequentes de trifloxistrobina + protioconazol, com eficiência de 72%. Os dois tratamentos que apresentaram a menor eficiência foram os tratamentos 5 e 7 (34%), ambos com aplicações de azoxistrobina + ciproconazol, porém, o tratamento 7 teve adição do fungicida epoxiconazol a esta mistura somente na primeira aplicação. Uma possível explicação para o resultado de menor eficiência de controle, apresentados pelos dois tratamentos é a menor quantidade de triazol na formulação, 24 g i.a./ha comparado, por exemplo, com o tratamento 9 que tem 70 g i.a./ha. As manchas foliares são melhor controladas pelos triazóis, respondendo positivamente a adição de mais triazol a mistura (triazol + estrobilurina). Esse procedimento é fundamental em cenários favoráveis a manchas foliares, como cultivares suscetíveis, monocultura de trigo e condições ambientais favoráveis. Segundo a indicação técnica da pesquisa do trigo (REUNIÃO, 2006), considera-se bom controle quando o fungicida apresenta eficiência superior a 70%, e controle regular quando a eficiência fica entre 50% a 70%. Portanto, o tratamento que apresentou bom controle, conforme os critérios descritos foi o tratamento 9, e todos os outros, exceto os tratamentos 5 e 7, que apresentaram um controle regular, com eficiência variando de 58% a 66%.

Os maiores rendimentos foram observados nos tratamentos: 2 - três aplicações da mistura piraclostrobina + epoxiconazol (5.034,1 kg/ha); 3 - mesma mistura com adição de propiconazol na primeira aplicação (5.072,5 kg/ha); 9 - aplicações de trifloxistrobina + protioconazol, com propiconazol adicionado na primeira aplicação (4955,0 kg/ha). 

Figura 2: Área experimental com sintomas de mancha amarela. Área tratada (esquerda) e testemunha sem tratamento (direita). UPF, o Fundo/RS. 2013. Fonte: Deuner, C.C.
Figura 2: Área experimental com sintomas de mancha amarela. Área tratada (esquerda) e testemunha sem tratamento (direita). UPF, o Fundo/RS. 2013. Fonte: Deuner, C.C.

A testemunha produziu 1.147,1 kg/ha a menos em relação ao tratamento 2, que apresentou a maior produtividade. Isso reforça a importância de uma boa condução da lavoura e auxílio de fungicidas que se mostram como uma ferramenta importante para minimizar os danos causados pelas doenças, sendo uma medida emergencial, rápida e eficiente. Para que a cultura do trigo seja sustentável, é necessário manter altos patamares de rendimento de grãos. Nesse sentido, os fungicidas devem ser aplicados segundo critérios que assegurem o retorno econômico, considerando o ciclo biológico do patógeno, o comportamento das cultivares, e as condições climáticas.

As pesquisas que tem como objetivo o manejo integrado de manchas foliares devem ser intensificadas e contínuas, com o objetivo de orientar o manejo dos agricultores para reduzirem danos na triticultura. Há a necessidade de que sejam desenvolvidos novos fungicidas ou reposicionados os fungicidas do mercado, para atenuar o problema de controle da mancha amarela. Porém, isso deve estar associado a outras estratégias de manejo, como resistência genética e rotação de culturas.

Trigo e doenças fúngicas 

O trigo (Triticum spp.) é o segundo cereal mais produzido no mundo, com significativa importância na alimentação humana e na economia agrícola global. O cereal é cultivado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, sendo o Sul responsável por mais de 90% da produção nacional. 

A produção brasileira de trigo supre aproximadamente metade da demanda nacional. No entanto, é de conhecimento geral que o Brasil possui imenso potencial para produzir trigo, sem exigir a incorporação de áreas ainda não cultivadas com grãos. Sendo assim, dentre os componentes que limitam o potencial produtivo da cultura, as doenças de origem fúngica se destacam, pois comprometem a qualidade e rendimento de grãos.


Victória V. Bertagnolli, Camila Ranzi, Valéria C. Ghissi, Pedro Bertagnolli Neto, Giovani Pastre, Gustavo Visintin, Carolina C. Deuner, Universidade Federal de o Fundo


Artigo publicado na edição 202 da Cultivar Grandes Culturas.

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