Artigo: Sem exceção

29.01.2014 | 21:59 (UTC -3)
Carlos Favaro

Estamos vivendo uma situação de exceção devido à realização da Copa do Mundo de futebol em Mato Grosso. Esta tem sido a argumentação central para toda e qualquer crítica relacionada ao atual estado das coisas. Porém, a exceção tem imputado a todos nós, de Mato Grosso, um preço alto demais.

As instituições básicas da máquina estadual estão, em sua maioria, paralisadas. Não funcionam, ou operam como se estivessem em o tartaruga. Pelos corredores, todos parecem aguardar pelo primeiro apito do juiz para começarem a efetivamente atuar. Procedimentos que mantêm a economia viva tornaram-se um arrastar de prazos e novos prazos: os braços estão cruzados.

O desmando prepondera. O nosso Fethab, que retira do setor produtivo a fonte de receita para investimentos previstos para a logística e para a habitação, tornou-se o plano B para custeio de despesas básicas. Inverteu-se a ordem das coisas, e o que era para ser recurso para o futuro das pessoas – caminhos e casas – virou um tapa-buraco contábil.

À primeira vista, tudo o que foi construído nos últimos 15 anos está desmoronando. Exemplo fácil de visualizar: aqueles 4.700 km de rodovias que nós, produtores rurais, ajudamos a erguer ao lado do Estado, se perderam, pois viraram pó e buraco. E, novamente vamos lembrar, não há mais recursos para se investir em logística em nossas vias estaduais.

Basta ler jornais, ouvir conversas, observar: por todo nosso Mato Grosso, há uma certa inquietação com o rumo que as coisas públicas estão tomando. A situação de exceção, que a tudo perdoa, está se tornando – se já não se tornou – imperdoável.

O estopim dessa pólvora parece ser a contestável qualidade das obras de infraestrutura urbana idealizadas para o recebimento da Copa do Mundo. Muito aguardadas e por todos esperadas como um sopro de boas novas para o Estado, aparentemente continuarão assim, como uma esperança não realizada, pois antes mesmo de entregues estão sendo refeitas!

Que aparato público é este que não dá conta de planejar uma intervenção como um viaduto? Que não consegue fiscalizar e prevenir a precariedade na engenharia? Que não faz cumprir um cronograma? Na raiz deste problema, talvez esteja então a fragilidade das nossas instituições.

O fato é que o incômodo está se ampliando e aos poucos, gradativamente, começamos todos a buscar por novas formas de fazer e viver esta realidade. Com certeza há um jeito diferente de se conduzir as coisas públicas: com responsabilidade, pulso firme, foco em resultados e eficiência.

Esse caminho, da realização para além da promessa, é o caminho que nós, do setor rural, sabemos trilhar. Convivemos décadas após décadas com cenários antagônicos, com situações conflitivas. Sabemos que é possível recomeçar, com muito planejamento, empenho, superação, gestão e foco – e obter bons resultados!

Essa certeza, no entanto, não é só nossa. É da dona de casa que faz o salário da família render até o fim do mês. É do autônomo que vira os feriados e aumenta a produção para não depender das ondas da economia. É do professor que supera a baixa remuneração, mas continua educando nossos filhos. É do servidor público que se incomoda como a maioria e antecipa seus prazos.

Mato Grosso é cheio de gente que sabe fazer dar certo. Gente que, dia após dia, tem a rotina de realizar, de cumprir. Gente que já está de olhos abertos para encontrar uma outra forma de fazer as coisas funcionarem. De fato. E sem exceção.

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