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Cientistas investigaram os efeitos reprodutivos da infecção do fungo Beauveria bassiana em Frankliniella occidentalis (tripes). Mais do que causar a morte imediata dos insetos, o patógeno compromete comportamentos sexuais, estrutura dos ovários e número de descendentes viáveis, com impactos duradouros na população da praga.
A pesquisa, conduzida por cientistas da China e dos Estados Unidos, demonstrou que a infecção pelo fungo interfere de forma significativa na dinâmica de acasalamento do inseto.
Machos infectados reduziram comportamentos de cortejo. Fêmeas, por sua vez, aumentaram a rejeição aos parceiros. A chance de cópula caiu de 78% (nos grupos saudáveis) para menos de 44% nas combinações com indivíduos contaminados.
A anatomia reprodutiva também sofre. As fêmeas infectadas apresentaram ovários subdesenvolvidos e menor número de ovos maduros. Cinco dias após a emergência adulta, a quantidade de oócitos nas infectadas era nitidamente inferior às saudáveis. A infecção reduziu ainda o comprimento das ovariolas, estruturas responsáveis pela produção de óvulos.
Essas alterações refletem-se na fecundidade. O número total de ovos por fêmea caiu pela metade nos casais infectados. O padrão de oviposição também mudou: enquanto indivíduos saudáveis mostraram dois picos reprodutivos ao longo de quase um mês, as fêmeas infectadas exibiram apenas um surto inicial, seguido de rápido declínio.
Outro efeito relevante foi a distorção na proporção sexual da prole.
Em condições normais, a espécie tende a gerar mais fêmeas. Após infecção, o número de descendentes masculinos superou o de fêmeas em todos os grupos experimentais com fungo. Essa mudança sugere interferência tanto na fecundação quanto na viabilidade do esperma dos machos contaminados.
Essa combinação de efeitos — comportamento reprodutivo alterado, redução na formação de ovos e mudança na razão sexual — aponta para um novo potencial estratégico no uso de B. bassiana como agente de controle biológico. Em vez de atuar apenas como um biopesticida letal, o fungo pode funcionar como uma força silenciosa, que mina gradualmente a capacidade reprodutiva da praga.
A pesquisa usou uma linhagem virulenta de B. bassiana, isolada do bicho-da-seda asiático e mantida em coleções microbiológicas oficiais. Os testes envolveram quatro tipos de acasalamento: casais saudáveis, fêmeas infectadas com machos saudáveis, machos infectados com fêmeas saudáveis e ambos os parceiros infectados. A análise comportamental seguiu protocolos precisos, com registro em vídeo e avaliação estatística robusta.
Os autores destacam que os efeitos subletais do fungo — tradicionalmente negligenciados nos programas de controle — podem ser tão ou mais relevantes que sua toxicidade imediata. Ao comprometer a reprodução, o patógeno reduz a taxa de crescimento populacional da praga, ampliando os intervalos entre surtos e facilitando o manejo integrado.
Embora os resultados tenham sido obtidos em condições laboratoriais, os autores defendem a incorporação dessas evidências nos programas de manejo. Em cultivos intensivos, onde o uso de inseticidas leva à seleção rápida de resistência, estratégias com múltiplos modos de ação são cada vez mais necessárias.
A infecção também compromete a sobrevivência dos adultos. Isso reforça o impacto geral sobre a população. Fêmeas infectadas viveram menos e botaram menos ovos. Os efeitos somam-se de forma cumulativa: menos acasalamentos, menos ovos, menos descendentes e mais machos, que por si só não ampliam a população.
No contexto da agricultura tropical e protegida, onde a tripes representa uma ameaça constante, o uso de Beauveria bassiana como supressor reprodutivo ganha destaque. O fungo, já disponível em formulações comerciais, oferece uma via dupla de ação: mortalidade direta e sabotagem silenciosa da perpetuação da espécie.
Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.1016/j.pestbp.2025.106464
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