Beauveria bassiana compromete reprodução de Frankliniella occidentalis

Estudo detalha como o patógeno altera comportamento, fisiologia e fecundidade do inseto

22.05.2025 | 14:37 (UTC -3)
Revista Cultivar
Avaliação morfológica do sistema reprodutivo em <i>Frankliniella occidentalis</i> sadia e infectada por <i>Beauveria bassiana</i>; (a-c) imagens microscópicas ilustrando a morfologia ovariana de WFT não infectadas 1, 2 ou 5 dias após a emergência do adulto; (d-f) morfologia ovariana comparativa de WFT após infecção 1, 2 ou 5 dias após a emergência do adulto
Avaliação morfológica do sistema reprodutivo em Frankliniella occidentalis sadia e infectada por Beauveria bassiana; (a-c) imagens microscópicas ilustrando a morfologia ovariana de WFT não infectadas 1, 2 ou 5 dias após a emergência do adulto; (d-f) morfologia ovariana comparativa de WFT após infecção 1, 2 ou 5 dias após a emergência do adulto

Cientistas investigaram os efeitos reprodutivos da infecção do fungo Beauveria bassiana em Frankliniella occidentalis (tripes). Mais do que causar a morte imediata dos insetos, o patógeno compromete comportamentos sexuais, estrutura dos ovários e número de descendentes viáveis, com impactos duradouros na população da praga.

A pesquisa, conduzida por cientistas da China e dos Estados Unidos, demonstrou que a infecção pelo fungo interfere de forma significativa na dinâmica de acasalamento do inseto.

Machos infectados reduziram comportamentos de cortejo. Fêmeas, por sua vez, aumentaram a rejeição aos parceiros. A chance de cópula caiu de 78% (nos grupos saudáveis) para menos de 44% nas combinações com indivíduos contaminados.

A anatomia reprodutiva também sofre. As fêmeas infectadas apresentaram ovários subdesenvolvidos e menor número de ovos maduros. Cinco dias após a emergência adulta, a quantidade de oócitos nas infectadas era nitidamente inferior às saudáveis. A infecção reduziu ainda o comprimento das ovariolas, estruturas responsáveis pela produção de óvulos.

Essas alterações refletem-se na fecundidade. O número total de ovos por fêmea caiu pela metade nos casais infectados. O padrão de oviposição também mudou: enquanto indivíduos saudáveis mostraram dois picos reprodutivos ao longo de quase um mês, as fêmeas infectadas exibiram apenas um surto inicial, seguido de rápido declínio.

Proporção sexual da prole

Outro efeito relevante foi a distorção na proporção sexual da prole.

Em condições normais, a espécie tende a gerar mais fêmeas. Após infecção, o número de descendentes masculinos superou o de fêmeas em todos os grupos experimentais com fungo. Essa mudança sugere interferência tanto na fecundação quanto na viabilidade do esperma dos machos contaminados.

Essa combinação de efeitos — comportamento reprodutivo alterado, redução na formação de ovos e mudança na razão sexual — aponta para um novo potencial estratégico no uso de B. bassiana como agente de controle biológico. Em vez de atuar apenas como um biopesticida letal, o fungo pode funcionar como uma força silenciosa, que mina gradualmente a capacidade reprodutiva da praga.

A pesquisa usou uma linhagem virulenta de B. bassiana, isolada do bicho-da-seda asiático e mantida em coleções microbiológicas oficiais. Os testes envolveram quatro tipos de acasalamento: casais saudáveis, fêmeas infectadas com machos saudáveis, machos infectados com fêmeas saudáveis e ambos os parceiros infectados. A análise comportamental seguiu protocolos precisos, com registro em vídeo e avaliação estatística robusta.

Efeitos em laboratório

Os autores destacam que os efeitos subletais do fungo — tradicionalmente negligenciados nos programas de controle — podem ser tão ou mais relevantes que sua toxicidade imediata. Ao comprometer a reprodução, o patógeno reduz a taxa de crescimento populacional da praga, ampliando os intervalos entre surtos e facilitando o manejo integrado.

Embora os resultados tenham sido obtidos em condições laboratoriais, os autores defendem a incorporação dessas evidências nos programas de manejo. Em cultivos intensivos, onde o uso de inseticidas leva à seleção rápida de resistência, estratégias com múltiplos modos de ação são cada vez mais necessárias.

Sobrevivência de adultos

A infecção também compromete a sobrevivência dos adultos. Isso reforça o impacto geral sobre a população. Fêmeas infectadas viveram menos e botaram menos ovos. Os efeitos somam-se de forma cumulativa: menos acasalamentos, menos ovos, menos descendentes e mais machos, que por si só não ampliam a população.

No contexto da agricultura tropical e protegida, onde a tripes representa uma ameaça constante, o uso de Beauveria bassiana como supressor reprodutivo ganha destaque. O fungo, já disponível em formulações comerciais, oferece uma via dupla de ação: mortalidade direta e sabotagem silenciosa da perpetuação da espécie.

Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.1016/j.pestbp.2025.106464

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