Vírus e ácaros resistentes dizimam abelhas comerciais nos EUA

Mais de 60% das colmeias foram perdidas antes da polinização; estudo revela a presença massiva de vírus letais

04.06.2025 | 08:09 (UTC -3)
Abelha adulta emergente altamente parasitada mostrando ácaros fêmeas que eram parasitas durante o desenvolvimento larval e pupal
Abelha adulta emergente altamente parasitada mostrando ácaros fêmeas que eram parasitas durante o desenvolvimento larval e pupal

A apicultura comercial dos Estados Unidos enfrentou, no início de 2025, um colapso sem precedentes. Dados obtidos em seis grandes operações apícolas indicam perdas superiores a 60% nas colônias desde a primavera anterior. No total, 1,7 milhão de colmeias desapareceram antes da temporada de polinização da amêndoa na Califórnia, evento agrícola que movimenta cerca de 1,5 milhão de colmeias por ano e gera bilhões em valor econômico.

As perdas coincidiram com a detecção em larga escala de vírus associados à mortalidade de abelhas.

Análises de campo e de laboratório mostraram a presença disseminada de três patógenos virais altamente letais: Deformed Wing Virus (DWV) nas variantes A e B, e o Acute Bee Paralysis Virus (ABPV). Ambos são transmitidos pelo ácaro parasita Varroa destructor, vetor amplamente presente nas colmeias americanas. O estudo identificou a totalidade dos ácaros coletados com resistência genética ao amitraz, acaricida mais utilizado na apicultura comercial.

Os dados foram coletados em janeiro, no momento mais crítico do colapso. Amostras incluíram abelhas com sintomas de distúrbio motor, como tremores e incapacidade de voo. Essas abelhas apresentaram cargas virais até cem vezes superiores às de abelhas assintomáticas.

Em laboratório, injeções de vírus isolados dessas abelhas causaram mortalidade total em abelhas saudáveis em até 36 horas, mesmo com diluições milionésimas do material original. Um único espécime infectado continha carga viral suficiente para matar 66 milhões de abelhas.

Curiosamente, análises de colônias ainda ativas — mesmo as consideradas “fortes” — também revelaram ampla disseminação desses vírus. Isso sugere que a presença dos patógenos, por si só, não é diagnóstico confiável. A diferença crítica está na carga viral e na resposta comportamental das abelhas, indicativos de infecção avançada.

Fêmea <i>Varroa destructor</i> - Foto G. San Martin
Fêmea Varroa destructor - Foto G. San Martin

A origem do colapso aponta para um sistema à beira do esgotamento. O ácaro Varroa destructor, presente em quase todas as colmeias comerciais do país, já não responde aos tratamentos convencionais.

O estudo identificou, em 100% dos ácaros analisados, o marcador genético Y215H, associado à resistência ao amitraz. Isso sugere que o produto perdeu eficácia, comprometendo o principal mecanismo de controle populacional do parasita.

O papel do ácaro vai além da simples infestação. Ele atua como uma seringa ambulante, injetando vírus diretamente no organismo das abelhas, especialmente durante as fases de pupação.

Sua habilidade de se mover entre abelhas adultas e imaturas amplia sua capacidade de disseminação viral, mesmo em colônias com população numerosa. Sem novos métodos de controle, a infestação se intensifica, comprometendo a reposição de abelhas adultas e acelerando o colapso das colônias.

As implicações vão além do prejuízo direto aos apicultores, estimado em US$ 600 milhões. A perda maciça de abelhas compromete a polinização de diversas culturas alimentares, incluindo amêndoas, maçãs, frutas vermelhas e melões. Sem polinizadores suficientes, agricultores enfrentam menor produtividade, frutas deformadas e maior custo com polinização suplementar.

A situação evoca lembranças do “Colony Collapse Disorder” registrado em 2007, mas agora com evidências mais robustas. Enquanto naquela época os agentes causais permaneciam indefinidos, os atuais dados experimentais apontam claramente para uma sinergia letal entre vírus e Varroa, agravada por falência nos métodos de controle químico.

Apesar dos novos conhecimentos, cientistas não descartam a influência de outros fatores como concausas para a morte de abelhas.

Mais informações em doi.org/10.1101/2025.05.28.656706

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