Como a adubação sustentou o domínio agrícola no norte da Europa
Análise revela que o cultivo intensivo e adubado do centeio começou séculos antes do imaginado
As abelhas enfrentam um novo cerco. Além da perda de habitats e das mudanças climáticas, uma nova leva de ameaças — mais sutis, mais difusas — avança silenciosamente sobre os polinizadores em escala global. Guerra, microplásticos e poluição luminosa figuram entre os doze fatores emergentes apontados por um relatório lançado nesta terça-feira (20/5) pela Bee:wild, campanha internacional dedicada à conservação de polinizadores, com respaldo científico da Universidade de Reading, no Reino Unido.
O documento alerta: o colapso de populações de polinizadores compromete diretamente a segurança alimentar humana. Quase 90% das plantas com flores e mais de três quartos dos cultivos alimentares do planeta dependem de agentes como abelhas, borboletas, morcegos e pássaros para se reproduzir.
O levantamento identificou os riscos com maior potencial de impacto nos próximos 5 a 15 anos. No topo da lista, o relatório destaca a simplificação de cultivos imposta por conflitos armados.
Exemplo recente é a guerra na Ucrânia, que forçou agricultores a abandonar a diversidade de lavouras, reduzindo drasticamente a oferta de alimento para polinizadores ao longo das estações.
Outro perigo silencioso infiltra-se diretamente nos ninhos: partículas de microplástico foram detectadas em colônias de abelhas melíferas em toda a Europa. Entre os materiais identificados, o PET — o mesmo das garrafas plásticas — revelou-se onipresente. Esses contaminantes ameaçam a saúde e a longevidade dos insetos.
A poluição luminosa noturna compromete o trabalho de polinizadores noturnos, como mariposas. Experimentos indicam que a visita a flores diminui em até 62% quando há luz artificial intensa. Isso interfere diretamente na fecundação de plantas que dependem da noite para se reproduzir.
O relatório também destaca impactos colaterais de políticas ambientais mal desenhadas. O plantio massivo de árvores não floríferas com foco exclusivo em captura de carbono, por exemplo, pode reduzir a oferta de pólen e néctar.
Já a mineração para obtenção de metais usados em baterias — como lítio e cobalto — destrói habitats essenciais. A queima frequente de áreas naturais, intensificada pelas mudanças climáticas, amplia esse cenário de devastação.
Frente a esse panorama, o relatório aponta caminhos. Entre as soluções propostas estão o fortalecimento de leis contra a poluição por antibióticos, o incentivo a veículos elétricos para reduzir emissões nocivas, o cultivo de plantas com melhor valor nutricional para abelhas e o uso de parques solares como habitats ricos em flores.
Também ganham destaque iniciativas como o desenvolvimento de pesticidas seletivos baseados em RNAi, que evitam danos a insetos benéficos. O uso de inteligência artificial para monitorar populações e pragas e a valorização de abelhas sem ferrão, cruciais na polinização de áreas tropicais, completam a lista.
“Não se trata apenas de salvar as abelhas”, alerta o professor Simon Potts, líder do estudo. “Elas sustentam os sistemas alimentares, a resiliência climática e a segurança econômica de populações inteiras. Proteger polinizadores é proteger a nós mesmos.”
Mais informações em beewild.rewild.org
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