Diversidade de culturas freia evolução da resistência de pragas a biopesticidas

Estudo revela que a alternância de plantas hospedeiras retarda a adaptação de Helicoverpa armigera a fungos

27.05.2025 | 14:49 (UTC -3)
Revista Cultivar

Um novo estudo desafia suposições sobre a evolução da resistência de pragas agrícolas. Pesquisadores do Reino Unido, Suécia e Brasil sustentam que a diversificação de culturas altera profundamente a eficácia de biopesticidas, mesmo em contextos onde diferentes patógenos pouco interferem no desempenho genético dos insetos. A chave está no alimento: mudar o cardápio das pragas bagunça as regras do jogo evolutivo.

O alvo da pesquisa é Helicoverpa armigera, uma das pragas mais destrutivas da agricultura global. Em condições controladas, larvas do inseto foram alimentadas com folhas de soja, milho ou tomate. E infectadas com dois fungos entomopatogênicos - Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae - comumente usados em biocontrole.

Os resultados? Genótipos resistentes a um fungo mantinham boa defesa contra o outro. Mas essa resistência não se sustentava diante de uma simples mudança de dieta. Larvas que sobreviveram bem ao fungo enquanto comiam soja, sucumbiram em dietas de milho ou tomate.

Os dados indicam que a diversidade alimentar induz trocas evolutivas que reduzem a eficácia de adaptações resistentes.

As plantas hospedam o inseto, mas também moldam como ele responde a infecções. A mortalidade variou não só entre fungos, mas de forma mais acentuada entre tipos de folhas. Soja favoreceu a sobrevivência; milho e tomate, nem tanto.

A capacidade relativa dos isolados fúngicos de matar larvas de <i>H. armigera</i> dependeu da dieta foliar da cultura. Os pontos indicam a mortalidade média no 14º dia pós-infecção; os bigodes fornecem limites de confiança binomial de 95% para cada combinação de tratamento do patógeno (no eixo x) e dieta foliar da planta (nos painéis). Total de n = 3.811 larvas nas 9 combinações de tratamento
A capacidade relativa dos isolados fúngicos de matar larvas de H. armigera dependeu da dieta foliar da cultura. Os pontos indicam a mortalidade média no 14º dia pós-infecção; os bigodes fornecem limites de confiança binomial de 95% para cada combinação de tratamento do patógeno (no eixo x) e dieta foliar da planta (nos painéis). Total de n = 3.811 larvas nas 9 combinações de tratamento

A equipe usou 3811 larvas em um desenho experimental com famílias meio-irmãs. Avaliaram a herdabilidade da resistência e calcularam correlações genéticas entre diferentes combinações de dieta e patógeno.

Quando só o patógeno mudava, as correlações genéticas permaneciam moderadamente positivas. Ao trocar a planta, os números caíam, chegando a valores negativos. A genética se embaralha quando o ambiente muda de forma imprevisível.

Essa descoberta muda o foco da resistência cruzada negativa (NCCR). Enquanto estratégias tradicionais apoiam-se em alternar pesticidas com modos de ação distintos, os autores propõem que o próprio ambiente agrícola pode gerar seleções inconsistentes.

Plantar culturas diferentes não só dificulta o avanço das pragas. Também impede que elas se adaptem rapidamente aos inimigos naturais inseridos via biopesticidas.

O estudo sugere que a resistência a biopesticidas não depende apenas do patógeno. Em muitos casos, o inseto precisa lidar com múltiplos desafios -- nutrientes, toxinas vegetais, estrutura foliar. Isso torna mais difícil a fixação de um “super genótipo” resistente.

A pesquisa planta uma ideia provocativa: pode a complexidade ser a melhor aliada do controle biológico?

Mais informações em doi.org/10.1371/journal.ppat.1013150

Representação esquemática do delineamento experimental. Larvas de segundo ínstar de cada fêmea foram aleatoriamente designadas para um de 9 tratamentos. Os insetos foram expostos a um de três tratamentos de infecção diferentes e criados em uma de três plantas diferentes. A sobrevivência larval foi registrada diariamente a partir de então
Representação esquemática do delineamento experimental. Larvas de segundo ínstar de cada fêmea foram aleatoriamente designadas para um de 9 tratamentos. Os insetos foram expostos a um de três tratamentos de infecção diferentes e criados em uma de três plantas diferentes. A sobrevivência larval foi registrada diariamente a partir de então

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