Material biodegradável otimiza aplicação de fertilizantes em mudas

Criado por inventores da UFSCar e da USP a partir de bagaço de cana-de-açúcar, invento otimiza trabalho e tempo, além de gerar economia e menos resíduos

02.05.2022 | 08:48 (UTC -3)
Adriana Arruda
Lucas Luiz Messa e Roselena Faez - Fotos: divulgação
Lucas Luiz Messa e Roselena Faez - Fotos: divulgação

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um material biodegradável que libera nutrientes, de forma lenta e prolongada, para produção e crescimento de plantas. A tecnologia otimiza trabalho e tempo, além de gerar economia e menos resíduos.

Feito a partir da fibra de celulose, extraída do bagaço da cana-de-açúcar, o invento tem a aparência de um papel e carrega três macronutrientes essenciais para o desenvolvimento de qualquer tipo de planta: nitrogênio, fósforo e potássio. É biodegradável por sofrer decomposição natural ao entrar em contato com o ambiente.

O método foi registrado como patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), com o apoio da Agência de Inovação (AIn) da UFSCar, e é inédito para este tipo de uso.

O material deriva da tese de Lucas Luiz Messa, doutor em Engenharia e Ciência de Materiais pela USP, campus de Pirassununga, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sob orientação de Roselena Faez, docente no Departamento de Ciências da Natureza, Matemática e Educação (DCNME-Ar) do Campus Araras da UFSCar.

A espessura do papel varia de 0,12 a 0,21 milímetros, sendo possível usá-lo como embalagem - na produção e no transporte de mudas, descartando o uso de plásticos ou potes - e, também, de forma fragmentada, em pequenos pedaços, para o crescimento e nutrição de plantas já em solo.

No mercado, já existem fertilizantes de liberação lenta e prolongada; também há materiais biodegradáveis para acomodar as plantas. "Mas essas duas características em um só produto é a novidade da tecnologia", assegura Faez.

O método para obtenção é simples, pois o bagaço da cana - matéria-prima abundante e de baixo custo - tem de 40 a 44% de celulose para extração. Além disso, o processo de produção não usa solventes e não gera resíduos.

Após esta etapa, são incorporados os macronutrientes - a quantidade exata de cada um varia de acordo com a demanda da planta, sendo, portanto, um material modulável e que evita desperdícios.

O produto permite, também, a inserção de micronutrientes, como magnésio, cobre, ferro e zinco, importantes em menor quantidade e em outras etapas de crescimento, sendo necessários estudos prévios e detalhados de cada espécie.

E, por ser biodegradável, em cerca de 45 dias o material sofre decomposição natural, sem impacto ao ambiente ou prejuízos às plantas. "Geralmente, em um estágio de 40 dias, elas já criaram novas raízes e, assim, e para seguirem crescendo dali em diante", relata a docente da UFSCar.

Atualmente, esse processo de nutrição é feito com fertilizantes inseridos de forma manual, no solo. "O agricultor já insere nutrientes em excesso, pois são sais solúveis e, com chuvas, podem ser levados para rios e lagos. Isso gera, além de desperdícios, perdas econômicas e ambientais", analisa a docente. 

Outra vantagem: o custo é baixo - cerca de R$ 0,27 por grama de embalagem -, algo interessante e viável para pequenos produtores de agricultura familiar.

"Em vez de reaplicar o fertilizante de duas até quatro vezes num determinado período (cerca de 45 dias), o produtor só usa o material uma vez, até a sua biodegradação natural. Sabe que a planta está recebendo os nutrientes necessários para se fortalecer sem desperdícios. Isso é vantajoso principalmente para o pequeno produtor, geralmente sozinho ou com equipe pequena, pois pode dedicar este tempo a outras atividades", afirma a docente.

Por ser facilmente modulada, a tecnologia atende diversas áreas da agricultura - de horticultura e floricultura a culturas de ciclos mais longos, como, por exemplo, em restaurações florestais.

"É possível inseri-la em mudas de eucalipto, por exemplo, com os nutrientes necessários a elas. Este, inclusive, é um de nossos estudos em andamento, e as perspectivas são boas", adianta Faez.

A tecnologia está disponível para comercialização de pequenos, médios e grandes produtores. Empresas e pessoas interessadas em adquirir o material podem entrar em contato com a Agência de Inovação da UFSCar, pelo e-mail [email protected].

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