Mercado segue volátil para soja e firme para milho

Clima na Argentina, câmbio e insumos pesam na soja; milho se apoia na safra e demanda aquecida

27.05.2025 | 15:36 (UTC -3)
Mariana Carvalho, edição Revista Cultivar

Segundo a Análise do Especialista Grão Direto desta semana, o mercado agrícola foi marcado por incertezas, com destaque para as chuvas que afetam a colheita da soja na Argentina e para a volatilidade do câmbio no Brasil após alterações no IOF. Enquanto a soja segue com preços laterais e exportações aquecidas, o milho mostra força com o avanço da colheita da segunda safra e expectativa de produção recorde.

Como o mercado de soja se comportou? 

Chuvas na Argentina: os problemas climáticos persistiram na Argentina, com chuvas intensas atrasando a colheita da soja, gerando perdas estimadas e impactando a qualidade dos grãos.

Exportações brasileiras: o Brasil continua mostrando força nas exportações, confirmando o bom volume de soja embarcada nos primeiros meses do ano.

Chicago e câmbio: as cotações da soja em Chicago tiveram uma semana movimentada, influenciadas pelo preço do óleo de soja, enquanto o câmbio apresentou instabilidade após o anúncio do aumento da alíquota do IOF pelo governo federal.

Em Chicago, o contrato de soja para julho de 2025 encerrou a semana cotado a US$ 10,61 por bushel, registrando alta de 0,95%. O contrato para março de 2026 também subiu, fechando a US$ 10,70 por bushel (+1,71%). O dólar teve leve queda de 0,35%, encerrando a semana cotado a R$ 5,65. No mercado físico, a soja apresentou resultados variados a depender da região, apontando para uma indecisão de movimento dos preços em meio à volatilidade.

O que esperar do mercado de soja?

Desafios da safra 25/26: a safra de soja 2025/2026 se apresenta desafiadora com a alta contínua nos fertilizantes. O KCL e o MAP registram altas consecutivas há três semanas, principalmente pela decisão da China de não negociar com a Índia devido a questões geopolíticas. Isso força a Índia a buscar os insumos em outros mercados, elevando a competição global e pressionando os custos.

Somado a isso, o crédito rural permanece caro, sem perspectiva de queda na taxa Selic, encarecendo seu financiamento. A volatilidade no mercado internacional, também por fatores geopolíticos, continua intensa, dificultando suas "travas de preços", com oportunidades surgindo apenas pontualmente e exigindo muita cautela.

Clima: apesar da volatilidade climática na safra norte-americana e do excesso de chuvas na Argentina, a soja permaneceu estável (lateralizada) na última semana. Os fundos de investimento mantiveram posições equilibradas, realizando vendas fortes no farelo e compras no óleo e na soja em grãos. Nos EUA, o clima segue favorável, mas as margens negativas dos produtores locais ainda podem limitar os esforços de replantio. Já na Argentina, embora as chuvas excessivas possam pressionar as cotações, o mercado parece já ter precificado amplamente esse risco.

Câmbio: o dólar está sujeito a volatilidade, especialmente com a atual incerteza fiscal no Brasil – a recente alteração e recuo na tarifa do IOF é um exemplo claro. Além disso, o mercado já começa a precificar o cenário político das eleições de 2026, influenciando as expectativas econômicas e o comportamento da moeda. As necessárias ações do governo para equilibrar o orçamento, seja por aumento de arrecadação ou por meio de ajustes fiscais, provavelmente trarão novas oscilações cambiais ao longo do tempo.

Com base nos fatores apresentados, o câmbio realmente se destaca como um vetor crucial para a precificação da soja no Brasil, com as incertezas internas podendo gerar altas no dólar e oportunidades pontuais de comercialização. No entanto, os fundamentos do grão em Chicago estão em um momento de alta sensibilidade, com o mercado acompanhando de perto cada detalhe do desenvolvimento inicial da safra americana, que será determinante para a oferta global.Como o mercado de milho se comportou? 

Safrinha brasileira: o desenvolvimento da safrinha de milho no Brasil seguiu animando o setor, com um ritmo satisfatório e o início da colheita em algumas regiões. As expectativas continuam se reforçando para uma possível safra recorde este ano.

Preços internos: o milho apresentou leve recuperação após períodos de queda, com o mercado mais estável no final da semana. O clima adverso em importantes regiões produtoras pelo mundo continua sendo um fator de sustentação para os preços globais.

Seca nos EUA: a situação climática nos Estados Unidos esteve no radar, com relatos de seca severa e baixa umidade do solo em estados cruciais para a produção de milho, como Dakota do Norte, Dakota do Sul e Nebraska.

Em Chicago, o milho encerrou a semana cotado a US$ 4,59 por bushel, registrando alta de 3,61%. Na B3, o contrato para julho de 2025 fechou em R$ 63,10 por saca, com valorização de 1,69%. No mercado físico brasileiro, a predominância foi de baixas em todas as regiões produtoras.

O que esperar do mercado de milho? 

Gripe aviária: apesar do recente caso confirmado de gripe aviária em uma granja comercial de postura em Montenegro (RS), o mercado entende que o impacto sobre os preços dos seus cereais será limitado. Isso ocorre porque os principais importadores – como Arábia Saudita, México, Japão e China – adotaram embargos específicos, restringindo apenas as exportações da localidade afetada, e não de todo o país.

Com a rápida implementação de todas as medidas sanitárias, a expectativa é de normalização do mercado em até 30 dias. Mesmo o Brasil sendo o último grande exportador a registrar um caso em granja comercial, não se espera que isso pressione significativamente os preços dos grãos, dada a demanda global firme por proteína de frango, que sustenta a procura por ração.

Milho 2º safra: a colheita do milho 2ª safra já começou em algumas regiões do Centro-Oeste e, com uma expectativa de produção acima de 100 milhões de toneladas, o avanço dos trabalhos deve pressionar os preços para baixo nos próximos três meses. Neste ano, vale notar que houve um volume maior de vendas futuras da sua parte, aproveitando os melhores preços no início do ciclo para garantir um preço médio mais favorável. Apesar da pressão da colheita, a demanda pelo cereal tende a ser alta, sustentada por pecuaristas com margens positivas e pelo contínuo ganho de espaço das usinas de etanol à base de milho.

O avanço da colheita volumosa esperada para a segunda safra de milho deverá exercer forte pressão nas cotações nos próximos dias e semanas, tornando um viés negativo para os preços o cenário mais provável. A demanda firme e as vendas antecipadas podem ajudar a moderar as quedas, mas o grande volume da colheita deverá ser o principal fator ditando o rumo do mercado no curto prazo.

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